"Anna Karenina" vai abrir a 4ª Mostra Mosfilm no Brasil


Nova produção do maior estúdio da Europa será lançada no Brasil, no dia 5 de dezembro


Elizabeta Boyarskaya, no papel de Anna Karenina, e Maxim Matveev, interpretando o conde Vronsky. O conhecido ator russo Vitaly Kishchenko, como Karenin.

Em 8 de junho passado aconteceu nos principais cinemas de Moscou e de toda a Rússia a estreia da mais nova adaptação cinematográfica de uma das histórias de amor, paixão e tragédia mais conhecidas, a "Anna Karenina" de Lev Tolstoi. Produzida pelo estúdio Mosfilm e dirigida por Karen Shakhnazarov, a obra chamou a atenção do público pela sua abordagem original.

O lançamento do longa-metragem foi precedido pela exibição em um dos principais canais de televisão russos, o "Россия 1 – Rússia 1", de um seriado em oito capítulos, com os mesmos atores e filmado ao mesmo tempo, mas que conta a história por um ângulo diferente.

Apesar de trabalhar com o mesmo tema, o mesmo diretor e os mesmos atores, elas são obras distintas. Cada versão tem seu roteiro. "O seriado é mais próximo do romance de Tolstoi. Nele há mais linhas de argumentação. Já o longa "Anna Karenina - A História de Vronsky"  é mais dinâmico, claro e denso.  Além disso, no filme há muitas cenas espetaculares, entre elas as batalhas, por isso só a exibição no cinema permite que se possa apreciar a alta qualidade de imagem (resolução 4k) e som (tecnologia Dolby-Atmos)", aponta a Redação de Noticias do Mosfilm.

O longa se situa no início do século 20, desenvolve-se durante a guerra russo-japonesa (1904-1905), que reúne no mesmo lugar os dois homens mais importantes da vida de Anna, seu filho Serguey e seu amante Vronsky, num encontro que não existe no romance, a partir do qual a história de Anna é narrada em flashblack.

E, de fato, esta versão não será parecida com as anteriores porque no roteiro se integram outras duas obras. Além do marcante clássico do realismo russo há o relato de Vikenty Veresaev "Na Guerra  Japonesa", e o ciclo do mesmo autor "Contos Sobre a Guerra Japonesa".

Publicado em 1877, o romance de Tolstoi se passa na Rússia czarista e retrata um caso extraconjugal vivido por Anna Karenina, mulher casada e mãe de um garoto pequeno. Ela se apaixona pelo charmoso conde Vronsky e abandona a família para viver com ele, chocando a sociedade e gerando consequências trágicas. É uma forte crítica às estruturas hipócritas das famílias tradicionais da aristocracia daquela época.

"O conflito entre a Rússia e o Japão é o início do fim do império (russo) e nos pareceu um bom ângulo para voltar a abordar a história entre Vronsky e Anna, no qual fica plasmado também o destino de todo o país", disse Shakhnazarov na pré-estreia do filme. Quando estivemos em maio passado no Mosfilm, integrando uma delegação do Centro Popular de Cultura da UMES, fomos convidados a assistir o filme antes da estréia e Shakhnazarov nos perguntou: "Por que Karenina tem mais de 30 versões, o que vocês acham?"

E respondeu: "Seguramente porque é o melhor que foi escrito sobre as relações entre homens e mulheres, e por isso os diretores se debruçam, é um estímulo". Além disso, acrescentou Shakhnazarov, a guerra russo-japonesa é um território ignorado na cinematografia russa, apesar de ser bastante "plástica".

Corria o ano de 1904. Um hospital militar russo, na retaguarda, funciona numa semi-abandonada aldeia chinesa. Serguey Karenin, chefe desse hospital, fica sabendo que o oficial ferido que está sendo operado é o conde Vronsky, responsável pela morte de sua mãe, Anna Karenina, e causa indireta da morte do pai. Sem nutrir ilusões e sem esperar por uma resposta, Karenin vai até Vronsky e lhe faz a pergunta que o atormentara toda sua vida: o que fez a sua mãe querer deixar de viver?

Esse encontro traz de volta o passado, revivendo a tragédia ocorrida há 30 anos.  "Anna Karenina - A História de Vronsky" abrirá no dia 5 de dezembro próximo a 4ª Mostra Mosfilm na Cinemateca Brasileira em São Paulo, contando com a presença de Karen Shakhnazarov, diretor do filme e também diretor-geral do maior estúdio cinematográfico da Rússia. (SUSANA SANTOS) 


Um romance, muitas adaptações

"Anna Karenina" foi levada pela primeira vez às telas em 1911 pelas mãos do diretor francês Maurice André Maître. Seguiram-se muitas outras versões:
"Anna Karenina" (1914), adaptação russa dirigida por Vladímir Gardin.
"Anna Karenina" (1915), versão americana protagonizada pela atriz dinamarquesa Betty Nansen.
"Anna Karenina" (1935), versão americana, direção de Clarence Brown, com Greta Garbo e Fredric March.
"Anna Karenina" (1948), versão americana dirigida por Julien Duvivier, com Vivien Leigh no papel protagonista.
"Anna Karenina" (1953), versão russa dirigida por Tatiana Lukashevich.
"Anna Karenina" (1967), versão russa dirigida por Aleksandr Zarkhí.
"Anna Karenina" (1974), versão russa dirigida por Margarita Pilikhina.
"Anna Karenina" (1985), versão americana, filme para TV protagonizado por Jacqueline Bisset e Christopher Reeve.
"Anna Karenina" (1997), versão americana, direção de Bernard Rose, com Sophie Marceau e Sean Bean.
"Anna Karenina" (2007), filme para a TV russa, de Serguey Soloviov.
"Anna Karenina" (2012), versão inglesa, filme dirigido por Joe Wright.

O livro foi levado ao cinema, televisão e teatro tantas vezes e tem tantas versões livres e modificadas para os gostos locais que é difícil saber com precisão quantas são.


Publicado na Hora do Povo, edição 3.553, 14/06/2017


Categorias